O Despertar de Zaratustra no Monte

O Despertar de Zaratustra no Monte

Esta cena é uma representação visual poderosa do prólogo de Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche, onde o protagonista deixa sua solidão nas montanhas para descer e levar sua sabedoria à humanidade. Vamos decifrar os elementos simbólicos:

1. O Profeta Solitário no Cume da Montanha

  • Trajes simples: Zaratustra não é um sacerdote ou rei, mas um sábio que rejeita as convenções sociais. Sua simplicidade contrasta com a pompa dos falsos moralistas.
  • Montanha envolta em névoa: A névoa simboliza o mistério e o isolamento do pensador que se afasta da sociedade para ganhar clareza. O cume é o lugar tradicional da revelação (como Moisés no Sinai ou o Buddha sob a árvore).
  • Raios de sol atravessando nuvens turbulentas: A luz que rompe as trevas é um símbolo clássico de iluminação. Aqui, representa o momento em que Zaratustra atinge uma compreensão superior e decide descer para compartilhá-la.

2. As Águias Voando em Círculos

  • Símbolo da liberdade do espírito: A águia, em Nietzsche, representa o Übermensch (além-do-homem) — que voa acima dos valores do rebanho, enxergando além das ilusões morais.
  • Movimento circular: Pode aludir ao eterno retorno, conceito central em Zaratustra. O voo das águias também sugere uma vigilância ativa, como se testemunhassem o despertar do profeta.

3. A Transição Entre Solidão e Comunhão

  • Zaratustra passa 10 anos nas montanhas antes de descer, mas sua sabedoria só se completa quando ele a oferece aos outros. A cena captura esse dilema: ele está no limiar entre a contemplação solitária e o impulso de transformar o mundo.
  • A névoa que se dissipa progressivamente reflete seu próprio amadurecimento — ele não é mais um eremita, mas um profeta ativo.

Paralelos Filosóficos e Mitológicos

  • Moisés e a Terra Prometida: Assim como Moisés vê Canaã do alto do monte Nebo, Zaratustra enxerga o potencial da humanidade, mas sabe que não poderá realizá-lo sozinho.
  • O Enigma da Montanha: Em O Caminho do Criador, Zaratustra diz: “É tempo de o homem traçar seu próprio objetivo. É tempo de o homem plantar o germe de sua mais alta esperança.” A montanha é onde esse propósito nasce.

Conclusão

A imagem sintetiza o momento em que o conhecimento deixa de ser auto-contemplação para se tornar vontade de criação. Zaratustra não quer apenas entender o mundo — ele quer transfigurá-lo. As águias, o sol e a névoa são testemunhas silenciosas desse despertar, anunciando que o profeta está pronto para sua jornada descendente — rumo aos homens, apesar de seus riscos.

(Nota: O voo das águias também ecoa o símbolo de Zeus, sugerindo uma sabedoria que desafia os deuses tradicionais — um tema central na crítica nietzschiana ao cristianismo.)

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