O Homem que foi um Campo de Batalhas

Mário Ferreira dos Santos, em seu ensaio “O homem que foi um campo de batalha” (1943-1945), fez uma interpretação original e crítica da filosofia de Nietzsche com o objetivo claro de desvincular Nietzsche do nazismo. Aqui está um resumo das principais ideias sobre como ele fez isso:
Como Mário Ferreira dos Santos interpretou Nietzsche contra o nazismo:
Crítica ao uso nazista de Nietzsche:
Mário Ferreira se opôs frontalmente às apropriações nazistas das ideias de Nietzsche feitas por autores como Alfred Baeumler, que via Nietzsche como um filósofo político a serviço do “germanismo” e da ideologia nazista.
Ele também se afastou da leitura metafísica de Heidegger, que acabou, de outro modo, reforçando certas leituras autoritárias de Nietzsche.
Interpretação da “vontade de potência”:
Mário Ferreira interpretou a vontade de potência não como uma substância ou essência metafísica, mas como uma concepção simbólica e dinâmica, ligada a processos vitais e à afirmação da vida.
Ele rejeitou a ideia de que a vontade de potência fosse uma justificação para o poder político, dominação ou violência estatal. Segundo ele, o conceito era antissistemático e antimetafísico, não podendo ser usado como base de uma ideologia totalitária.
Defesa de um Nietzsche anti-autoritário:
Mário argumentou que Nietzsche não era um pensador da obediência cega, da moral de rebanho ou da submissão ao líder, mas sim um crítico radical dessas formas de pensamento.
Para ele, o nazismo representava o oposto do espírito nietzschiano: uma glorificação da massa, do rebanho e da obediência ao chefe, enquanto Nietzsche exaltava o indivíduo criador, a superação pessoal e a recusa de toda moralidade gregária.
Recusa da “metafísica da violência”:
Mário Ferreira alertou contra o erro de interpretar Nietzsche como um filósofo da violência ou da guerra por guerra.
Ele traduziu “Wille zur Macht” como “vontade de potência” (e não “vontade de poder”), justamente para evitar a leitura belicista e autoritária.
Criticou a tentativa de transformar Nietzsche em um ideólogo da violência e do nacionalismo expansionista.
Análise histórica e cultural do nazismo:
Mário procurou explicar a ascensão de Hitler e o surgimento do nazismo a partir de fatores históricos alemães, como o pangermanismo e os traumas da Primeira Guerra Mundial, e não como desdobramentos naturais da filosofia de Nietzsche.
A Vontade de Potência como crítica da metafísica e da verdade absoluta:
Para Mário, Nietzsche é um crítico das verdades fixas e dos sistemas fechados.
O conceito de “vontade de potência” se conecta a uma crítica da lógica tradicional e da ilusão da verdade objetiva.
A preocupação com a responsabilidade do intérprete:
Mário sabia que naquele contexto histórico (pleno auge da Segunda Guerra), qualquer erro de interpretação poderia reforçar o uso político de Nietzsche pelo nazismo.
Por isso, ele adotou um tom de alerta e responsabilidade filosófica, procurando mostrar que Nietzsche não poderia ser reduzido a um símbolo da barbárie nazista.
Conclusão resumida:
Mário Ferreira dos Santos realizou uma interpretação ética, não metafísica, simbólica e antiautoritária de Nietzsche, combatendo com rigor os abusos ideológicos nazistas. Sua tradução e seu ensaio foram, na época, um dos primeiros esforços no Brasil para “limpar” a imagem de Nietzsche da associação indevida com o nazismo.
Se quiser, posso fazer um resumo ainda mais curto (tipo um parágrafo) ou um esquema tópico. Quer?